quinta-feira, 31 de março de 2011

Tecnólogos em RH ainda enfrentam resistências no mercado de trabalho


Desde 2001, quando o Ministério da Educação e Cultura (MEC) autorizou a criação de graduações de nível superior com dois anos de duração, muitas instituições criaram cursos com essas características, inclusive na área de Gestão de Recursos Humanos. O problema é que os tecnólogos – como são chamados os graduados em dois anos - enfrentam preconceitos no mercado de trabalho. Leitores do Canal RH sugerem que o MEC crie um conselho para fiscalizar e avaliar os cursos existentes. O Ministério, por sua vez, informa que não cria esse tipo de órgão e especialistas analisam a qualidade dos cursos e o motivo da rejeição aos tecnólogos no mercado.

De acordo com Marcelo Feres, coordenador de regulação e supervisão da educação profissional do MEC, o diploma dos cursos de Gestão de RH em dois anos é válido, como qualquer outro de nível superior, e sua qualidade é constantemente fiscalizada por meio de atos regulatórios, que envolvem autorização, reconhecimento e renovação dos cadastros no MEC. ”Além disso, existe o exame nacional de estudantes (Enade)”, lembra Feres. O Enade avalia a qualidade dos cursos por meio do desempenho dos alunos.

O executivo orienta os estudantes a procurarem informações e referências sobre a qualidade dos cursos antes de se matricular. Os cursos superiores regularizados pelo MEC estão cadastrados no sistema e-MEC (http://emec.mec.gov.br/), que pode ser visitado gratuitamente. Durante o curso, o estudante também pode questionar a qualidade, mas é importante que tal questionamento seja fundamentado. “Caso o aluno ache que o curso está muito abaixo das suas expectativas, ele deve procurar se informar sobre os referenciais de qualidade, para que não se restrinja apenas a questões subjetivas. É sempre uma boa prática os alunos cumprirem com a sua parte enquanto estudantes e cobrar dos docentes e das instituições que façam a sua parte também”, alerta Feres.

Ele acrescenta que mesmo nos casos em que o curso ou a instituição de ensino tenha sido extinta em função do processo avaliativo do MEC, o aluno terá direito a todo o seu histórico escolar para buscar uma transferência para outra universidade.

Qualificação dos docentes

Ainda que o MEC afirme que prima pela fiscalização, para a consultora Ivone Boldrini, da Scelta RH – Gestão de Pessoas, os cursos de tecnólogos têm problemas de qualidade. Segundo ela, “o principal defeito da graduação de dois anos é a falta de qualificação dos professores”.

Ivone pondera, entretanto, que isso não se deve à falta de conhecimento acadêmico por parte dos docentes, mas decorre da falta de vivência profissional. “São pessoas que nunca pisaram em um chão de fábrica, nunca viveram o dia a dia de uma empresa. Uma coisa é você ler sobre algo, conhecer na teoria. Outra é viver a prática”, analisa. “E isso se agrava a partir do momento em que os cursos são voltados para colocar os alunos no mercado de trabalho”, completa a consultora.

O coordenador do curso de Gestão de Recursos Humanos da Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo (SP), Luciano Venelli Costa, rebate o argumento de Ivone: “O tecnólogo de RH é uma novidade no mercado”. Segundo ele, há resistência dos profissionais de Administração de Empresas e de Psicologia na hora de contratar um profissional que eles ainda não conhecem direito. “As empresas tendem a contratar um profissional que já conhecem. Portanto, quando o mercado começar a contratar mais tecnólogos, a resistência vai diminuir”, prevê.

Vencendo as resistências

Para acabar com esse obstáculo, a Metodista adotou uma estratégia incomum: ”Como estamos no ABC paulista, região de muitas montadoras de automóveis, vamos até as empresas para mostrar que nosso aluno, mesmo com um tempo de graduação menor, está extremamente apto a cuidar da gestão de Recursos Humanos.” Ele admite, entretanto, que quem já trabalha na área, consegue aplicar melhor aquilo que aprende no curso.

A questão da prática é um entrave para profissionais de todas as áreas, na opinião de Marcelo Mirabelli, diretor do campus Interlagos do Centro Universitário Estácio-Radial. Ele afirma que a dificuldade do tecnólogo é a mesma de qualquer profissional inexperiente e informa que a Estácio procura oferecer o máximo de práticas durante o curso. “Nossa carga horária compreende 15% de prática e os estudantes realizam treinamentos e seminários para os alunos de outros cursos da universidade”, informa.

Mirabelli acrescenta que o curso tem uma formação teórica consistente em Direito Trabalhista e é voltado para o desenvolvimento de um RH estratégico nas empresas. “O crescimento da economia mundial está cada vez mais centrado no setor de serviços e isso demandará muito mais estratégia por parte do RH das empresas, uma vez que a área de serviços tem como insumo principal justamente as pessoas”, analisa.

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